Sunday, 23 August 2009

Teletransporte

Oktoberfest é uma festa que eu gosto de ir. Na minha infância era sinônimo de parque de diversões. Ia com os meus pais nos fins de semana à tarde para brincar no carrinho-choque e muitos outros brinquedos. Além de comer algodão doce, churros, e tomar bastante refrigerante.

Depois que virei moço o legal sempre foi ir à noite. Com amigos sempre ao lado, todos bêbados e se divertindo muito. Sempre gostei de ir no primeiro dia: Quinta Feira. Não é cheio de pessoas e ainda não tem aquele cheiro de chopp azedo nos pavilhões, além do sapato ainda não grudar no chão. Tudo novinho e em ordem. E normalmente vou mais uma ou duas vezes no mesmo ano. Com exceção da primeira noite (relativamente sóbria), todas as outras vezes eu fazia questão de não dirigir, e arrumava outro jeito para ir e para voltar da festa.

Quase sempre ficava até o final: 5 da manhã se não me engano, vem aquela gang varrendo o chão, e vão varrendo tudo e todos que estão pela frente. O jeito é ir embora mesmo. Às vezes dormia na casa de algum amigo que morava perto, ou voltava de carona, ônibus, táxi ou moto-táxi.

Mas uma vez voltei pra casa de uma maneira um tanto diferente. Num momento pelas altas da madrugada eu me perdi da galera. Estava perambulando perdido pelo pavilhão B. Neste pavilhão há um banheiro ao lado do palco e me lembro que estava indo naquela direção, e quando ao passar pelo lado do palco percebi que a banda estava tocando a música Todas as Noites do Capital Inicial. Típico naquelas horas no meio do show, em que as bandas da Oktoberfest param de tocar músicas alemãs e tocam as músicas do momento das FM's, anos 60, e particularmente Another Brick in The Wall Part II. E naquele momento, em minha opinião de bêbado, achei que a banda estava interpretando Todas as Noites muito bem. Estava lá, munido de um copo de chopp já pela metade, ao lado da caixa de som, querendo ouvir a música até o final. Não estava tão apertado para ir ao banheiro, ainda mais que este agora encontrava-se tão próximo.

Ouvindo a música pensei: Vou terminar este chopp ouvindo a banda, ir ao banheiro, comprar outro chopp (oh, tenho um ticket de chopp no bolso!), sair fora do pavilhão, comer um x-alemão ou quem sabe um espetinho Mimi, e com muita sorte encontrar algum amigo pelo caminho.

Estava feliz, agora com um plano estabelecido, e pronto para colocar em ação. Mas no momento em que finalizei minha bebida, começo a ouvir um zunido contínuo, do tipo zéééééééé. Parecia estar vindo da caixa de som. A banda não mostrava-se incomodada pelo ruído, pois continuavam a tocar como se nada tivesse acontecido. E eu percebi que o zunido, antes sutil, começou lentamente a aumentar de intensidade. E eu dei uns passos para trás pois estava se tornando irritante. O barulho aumentou a ponto que agora já era mais alto que a própria música, mas a banda não se importou, e continuavam a tocar normalmente. E o zunido continuou a ficar mais alto e insuportável, até que engoliu completamente a música, e só o que eu ouvia naquele momento era zééééééééé.

Foi quando, num piscar de olhos, eu me encontro deitado em minha cama na minha casa. Domingão de sol e calor, onze e meia da manhã e eu com uma puta ressaca. Vestindo a mesma roupa, com exceção dos sapatos: pé direito perto da porta e o esquerdo a um passo adiante, de cabeça para baixo. Lá fora meu pai roçando a grama, passando com a màquina bem na janela do meu quarto. À medida em que ele se distanciava começei a perceber música vindo da sala. Minha irmã ouvia o CD do Capital Inicial, que já estava tocando a faixa seguinte.

E não havia ticket de chopp algum no bolso da minha calça.